Dificuldades dos estudantes para associar a faculdade e o trabalho

Foto: Pedro Uchôa

Por: Pedro Uchôa, Maria das Dores, Isabella Oliveira, Thiago Souza Oliveira

O acesso à universidade é um dos maiores problemas para a vida acadêmica do estudante da Universidade Federal do Cariri (UFCA), seja de transporte público ou particular. A inflação pressiona os preços dos combustíveis e, consequentemente, das passagens. Mesmo antes do início da pandemia, que começou em 2020, alunos da universidade e de outras instituições sofriam com esse problema. Com o retorno das aulas em 2022, discentes, em conjunto com a universidade, resolveram aderir a manifestações em prol de um transporte com mais qualidade.

As manifestações tiveram origem após a suspensão das linhas 9, 10 e 11, que atendiam aos estudantes. Já no retorno das aulas no IFCE, primeira instituição pública a retornar, e com o maior número de estudantes, circulava apenas o ônibus da linha 8, dando origem à reivindicação dos alunos do instituto para que também circulasse a linha 10.

No movimento havia estudantes que até mesmo trancaram o curso por falta de acesso devido ao ônibus, o ato contou com o apoio de movimentos sociais, partidos e entidades estudantis. Após essa movimentação, os alunos conseguiram uma reunião com o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (PODEMOS), mas foi dada como improdutiva, mesmo sabendo da proposta de um subsídio, em que a VIA METRO, empresa que opera as linhas, teria um reajuste da tarifa. De acordo com a empresa, a tarifa deveria custar R$ 5,60, e o subsídio cumpriria o papel de diminuir para o usuário de transporte público para R$ 3,00.

Em 22 de março, foi realizada uma assembleia geral na UFCA, em que foi discutida a oferta de transporte coletivo para o campus de Juazeiro do Norte. A gestão da universidade manifestou apoio aos estudantes e anunciou a interlocução com o poder público municipal.

Foto: Pedro Uchôa

A estudante de Jornalismo da UFCA, Claricia Alves, conta sua trajetória diária até chegar a hora de ir à faculdade. Com a vida agita e cronometrada, Claricia relata que, com o trabalho, o tempo fica mais curto para realização de outra atividade, inclusive estudar.

A estudante tinha um emprego em uma rádio, e por falta de transporte para a faculdade, teve que se mudar, pois não conseguia conciliar a distância. Segundo ela, está bastante complicada a questão dos horários, tendo que muitas vezes abrir mão de algo prioritário e fazer uma lista do que será mais importante naquela situação, como é o caso do horário da alimentação. A estudante com frequência abre mão de dormir para dar espaço para o estudo.

- "Acho que a maior dificuldade é a questão do tempo, mesmo, a correria e o cansaço." (Claricia Alves)

Rotina pesada

Com poucas perguntas, é possível notar o drama dos estudantes que trabalham. A rotina é pesada e causa cansaço, desmotivação, falta de foco e problemas na alimentação. E estudante Maria Gonçalves não compartilha do drama de centenas de estudantes que dependem do transporte público para se locomover até a universidade, que em sua maioria saem de casa logo depois das 06h e só retornam depois das 22h e ainda são obrigados a viajar sem nenhum conforto e segurança devido à pouca oferta de ônibus e alta demanda de passageiros.

Maria se dirige até a universidade às 18h, e ao chegar, janta às pressas, mas isso acontece raramente, pois na maioria das vezes opta por jantar às 20h, horário do intervalo da faculdade. Têm dias que vai em casa antes, para trocar de roupa, tudo dependendo do professor da primeira aula, algum mais flexível e que tolera chegar um pouco mais tarde, mas em compensação perde parte do conteúdo.

De um certo modo dá pra conciliar, mas é bastante complicado, pois não tem tempo de estudar durante o dia, só aos finais de semana ou a noite após a aula, mas o cansaço bate e prefere dormir, se não, acorda cansada e isso vai acumulando. Em época de provas é pior para estudar, tenta estudar no trabalho, mas relata ter muitas distrações e não consegue fazer nenhuma coisa nem outra, sentindo vontade de trancar o curso.

"Dá até vontade de trancar o curso." (Maria Gonçalves)

Maria, vai de carona com seu pai, mas quando não há essa possibilidade, recorre a algum amigo que também estuda na UFCA, ou solicita transporte por aplicativo, pago do seu próprio bolso, se for pra utilizar o ônibus, perde a primeira aula e não chega a tempo para jantar no R.U. (Refeitório Universitário), não preferindo lanchar no intervalo entre as aulas, por sair mais caro e pesar no bolso no final do mês.

Entrevistamos alguns alunos da universidade, é possível conferir através dos relatos que, as dificuldades são parecidas, o primeiro vídeo é da estudante Sara, que cursa Jornalismo na Universidade federal do Cariri, e relata de uma forma bem simples, suas dificuldades enfrentadas em sua rotina, no trabalho e no estudo.

O segundo depoimento do Aluno Manoel Queiroz, traz um pouco mais de detalhes sobre a questão de horário e o problema da acessibilidade, relatando ser uma dificuldade no seu dia.

Rebeca Almeida, 20 anos, que cursa o primeiro semestre de administração na UFCA, relata que as dificuldades entre trabalhar e estudar são muitas. "A realidade é que nem sempre eu consigo realizar meus afazeres no dia a dia devido a carga alta de trabalho e pouco tempo para executar", explica a estudante. Essa realidade implica diretamente na qualidade do ensino.

O tempo para esses estudantes é muito corrido, eles têm obrigações distintas e uma rotina exaustiva. A dupla jornada traz um relevante prejuízo na formação desses futuros profissionais. "Na verdade, não é algo nada fácil para que eu consiga conciliar tudo tão bem assim, mas com alguns auxílios de montar um cronograma semanal, tentar flexibilizar meus horários no trabalho e saber estabelecer minhas prioridades é uma das opções que devido às dificuldades eu estou conseguindo manter essa rotina”, afirma Rebeca.

São inúmeras as questões que contribuem para esse obstáculos, entre eles, o deslocamento do trabalho para universidade, poucas horas de sono, atividades para realizar e alimentação desregrada. Tudo isso contribui para deixar o aprendizado com uma baixa qualidade. Rebeca explica que a rotina exaustiva leva à falta de foco, demora para realizar tarefas, dificuldade de entender as atividades propostas. A vida dos universitários não é fácil, são muitos os obstáculos que surgem ao longo dessa jornada. Entretanto, o sonho de se formar é a mola propulsora que os estimula a seguir em frente, sempre.